Por que não temos tantas notícias e artigos para o varejo de autopeças?
Artigo de Luiz Sergio Alvarenga – Alvarenga Projetos Automotivos Ltda
O Varejo de autopeças foi estimado no ano de 2023 em 65.199 lojas no país conforme o último anuário do comércio de autopeças do Brasil que tem como base o Governo Federal, e é interessante observar que pouco enxergamos nas comunicações especializadas ou mesmo em estudos e pesquisas temas relacionados a este importante setor que forma a cadeia de reposição automotiva. O varejo de autopeças a exemplo das empresas de reparação de veículos são os únicos que são extremamente pulverizados e visíveis em praticamente todos o território nacional, até porque aqui começam as nossas diferenças quando somos comparados com a Europa onde a figura do varejo é tímida.
A Europa é formada por vários países, cujas dimensões territoriais estão muito aquém do tamanho do território brasileiro, apenas para dar alguns exemplos em tamanho por km2 de território, a Alemanha pode ser comparada ao Estado do Mato Grosso do Sul, enquanto a Itália é do tamanho do Maranhão, e por aí vai. Estas dimensões podem nos revelar muitos sinais para evitar comparações falsas em determinados segmentos de negócios, isto sem contar, grau de escolaridade, cultura, tecnologia e infraestrutura.
A logística como é um dos pilares vitais do comércio de autopeças, se não dizer o mais importante nos dias de hoje, tem no tamanho do território revelações estratégicas de ações, desde o volume de lojas, chegando até as questões do comércio eletrônico, este último dependente de bolsões de abastecimentos físicos para retirada dos componentes.
Estima-se que no Brasil as lojas varejistas de autopeças movimentem financeiramente mais de 40 bilhões de reais, digo estimado porque não temos dados suficientes para mensurar as vendas que são realizadas aos consumidores finais, donos dos veículos automotores.
Outro dado extremamente importante é o papel financiador das lojas de varejos de autopeças junto a um público de mais de 70% das oficinas independentes de micro e pequeno porte, ou seja, não enxergar o valor desta atividade econômica é não entender o funcionamento de uma cadeia de valor.
As lojas de varejo de autopeças também devem entender que a comercialização de peças evolui em função das mudanças do próprio mercado, que é feito de pessoas e de gerações diferentes, que por sua vez já não aceitam comportamentos conservadores construídos no passado, sejam eles os clientes, sejam eles os fornecedores, mas não se trata de uma regra engessada, mas que podem variar de empresa para empresa em função inúmeros fatores como, praça, objetivos e cultura da própria empresa, e dos perfis de cada cliente.
O mercado não aceita desaforo e todo um conjunto de situações devem ser milimétricamente analisados, por isto, não é recomendado ficar com os olhos somente no retrovisor, mas estar atento ao para-brisa, ou seja, clientes mudam e fornecedores mudam, pois tudo está em constante transformação, embora tenhamos o sentimento de as coisas sempre aconteçam do mesmo jeito, mas não se engane, ou será mais um sapo na panela quente como trata a reflexão, isto é, conseguir enxergar e tomar decisões inteligentes antes que o mercado te engula.
Ao contrário do que muita já ouviu falar, alguns setores podem até desaparecer em função de tecnologias que acabam por substituir alguma função, cujo negócio estava centrado somente nesta operação, mas a maioria se transforma , principalmente em países como o Brasil onde os entraves logísticos e o próprio tamanho do país impedem algumas acelerações, basta lembrar o temor do comércio eletrônico, que sinalizava acabar com o comércio físico, mas o mercado de reposição automotivo não vende “linha branca”, vende muitas peças técnicas de muita complexidade e responsabilidade jurídica por trás delas, além disto quem sabe dizer quantas alterações de componentes são realizadas pelas montadoras na linha do tempo de um modelo de veículo? Conseguem enxergar ao menos os “recalls”? Pois é, são tantas narrativas que amedrontam que acabam tirando o foco do que realmente interessa, isto é, o mercado e sua dinâmica.
Para aqueles que ainda tem dúvidas, as lojas de varejo de autopeças são vitais no Brasil e precisam, assim como as oficinas independentes, de todo o suporte dos comandantes de sua cadeia de valor.
